SNN – Serviço de Neurologia e Neurocirurgia

AVC

O AVC é a principal causa de incapacitação e morte no Brasil?

Segundo dados do Ministério da Saúde, o AVC é a segunda causa de mortalidade no Brasil. Também é a principal causa de incapacidade permanente. Os principais fatores determinantes para esta trágica estatística são o controle inadequado dos fatores de risco para as doenças cerebrovasculares, o desconhecimento por parte da população dos sintomas, a falta de estrutura e organização dos sistemas de saúde para o imediato e qualificado atendimento do AVC agudo e o baixo investimento na reabilitação dos pacientes enfermos. Essas condições levam a um tratamento tardio e inadequado, o que aumenta o número de mortes e sequelas graves.

Qual a diferença entre AVC isquêmico e hemorrágico? Qual é mais frequente?

O subtipo isquêmico, ou infarto cerebral, é responsável por 80% dos casos de AVC. Ocorre devido à obstrução ou entupimento de um vaso sanguíneo cerebral (artéria), responsável pela nutrição e fornecimento de oxigênio para uma determinada área do cérebro. Os sintomas e a gravidade variam de acordo com a artéria afetada e a região cerebral comprometida.

O restante dos casos compreende o AVC hemorrágico, também conhecido como derrame, que ocorre quando há a ruptura de um vaso sanguíneo cerebral, provocando uma hemorragia intracerebral (sangramento no interior do cérebro) ou subaracnóidea (sangramento ao redor do cérebro devido a ruptura de aneurisma, na maioria das vezes). Semelhante às isquemias, os sintomas também dependem do local atingido.

Quais os fatores de risco para um AVC?

A maioria dos fatores de risco para um AVC é modificável e, portanto, é possível a prevenção. Os mais frequentes são: hipertensão, tabagismo, colesterol elevado, diabetes, sedentarismo, consumo frequente de álcool e drogas, doenças cardiovasculares (principalmente arritmias cardíacas) e doenças hematológicas (doenças do sangue que aumentam a chance de trombose). Desta forma, um AVC pode ser prevenido através de hábitos alimentares saudáveis, realização de atividade física regular, cessação do tabagismo e do uso excessivo de álcool, controle rigoroso e acompanhamento médico da hipertensão arterial e do diabetes.

Outros fatores de risco são inerentes aos indivíduos, genéticos e não-modificáveis, como o envelhecimento, história familiar de AVC e de doenças cardiovasculares, SEXO MASCULINO e raça negra. Estas pessoas devem ter atenção ainda maior aos fatores de risco modificáveis e fazer consultas médicas mais frequentes.

Como reconhecer um AVC?

Os sintomas mais comuns no início de um AVC são:

  • Fraqueza ou dormência na face, braços ou pernas, geralmente afetando apenas um lado do corpo;
  • Alteração da fala, caracterizada por perda total ou parcial da capacidade de falar ou de compreender o que se diz. A fala pode ficar enrolada, com palavras trocadas ou com frases sem sentido;
  • Perda da visão total ou parcial em um dos olhos ou de metade da visão;
  • Dor de cabeça muito forte, principalmente se for de início abrupto e acompanhada de vômitos, sonolência, convulsões ou qualquer um dos sintomas acima.

 

Existem três passos importantes para que se possa reconhecer um AVC:

1 - Solicite a pessoa que SORRIA;

2 - Solicite a pessoa que LEVANTE AMBOS OS BRAÇOS;

3 - Solicite a pessoa que FALE UMA FRASE SIMPLES.

Se houver dificuldade em executar qualquer um dos três passos acima, a pessoa pode estar tendo um AVC.

Como proceder ao perceber que uma pessoa está tendo um AVC?

O AVC é uma EMERGÊNCIA MÉDICA e, se você achar que alguém está tendo um, é preciso levá-lo imediatamente ao hospital mais próximo para o diagnóstico e tratamento. A melhor forma para o transporte é chamar um serviço de atendimento médico de urgência. Não administre nenhuma medicação antes de chegar ao hospital, principalmente remédios para a pressão, que podem até piorar os sintomas.

O AVC deve ser encarado como urgência devido à possibilidade de tratamento, principalmente se iniciado de 4 a 5 horas após o início dos sintomas. O uso de medicações para desobstruir a artéria cerebral acometida é possível dentro deste período, diminuindo de forma significativa o número de sequelas. Também pode ser feito, em casos especiais, cateterismo de urgência para desobstrução do vaso afetado. Entretanto, mesmo que já tenha passado mais de 4 a 5 horas do início dos sintomas, o paciente deve ser levado imediatamente ao hospital, pois há risco de piora devido ao edema (inchaço) cerebral e nova isquemia ou sangramento no período subsequente. Também devem ser investigadas as causas do AVC após a internação, através de uma completa investigação dos fatores de risco.

1.9.9 Estenose de Carótida                       

O que é uma estenose de carótida?      

Estenose da carótida é uma obstrução, parcial ou total, da artéria carótida (normalmente a artéria carótida interna). É produzida pela aterosclerose, que é o principal processo patológico que compromete as grandes artérias elásticas (ex.: as artérias aorta coronárias) e as artérias musculares de médio calibre (ex.: as artérias coronárias e carótidas), produzindo depósito de gordura e estreitamento arterial.

Como se desenvolve ou se adquire?     

A causa mais comum da estenose da carótida é a aterosclerose. Ela é um processo degenerativo caracterizado por um acúmulo de gordura, fibras de tecido conjuntivo e células. A aterosclerose tem muitas manifestações, incluindo a formação de placas com estenose, ulceração com trombose, êmbolos distais, dilatações arteriais e aneurismas fusiformes. A causa mais comum do AVC isquêmico é de origem cardíaca. AVCs em decorrências de estenose de carótida ocorrem em cerca de 15% dos casos.

Qual o seu impacto social?

O AVC é o transtorno mais frequente entre os idosos. Nos Estados Unidos acontecem mais de 5000.000 AVCs por ano. Estima-se que exista mais de dois milhões de sobreviventes com os mais variados graus de sequelas (incapacidades). Junto das Enfermidades Cardíacas e Cancerígenas, o Acidente Cerebrovascular é a principal causa de morte no nosso meio. A Doença Obstrutiva das Carótidas é responsável por aproximadamente 20% a 30% desses Acidentes Cerebrovasculares.

Qual são os sintomas? 

Lesões de estenose arterial são consideradas sintomáticas se apresentam um ou mais episódios isquêmicos. A lesão é considerada assintomática quando o paciente tem apenas queixas visuais não específicas, tonturas ou sincope não associada com acidente isquêmico vascular ou derrame. Pacientes sintomáticos podem apresentar deficiência motora, sensitiva, perda total ou parcial de visão de um lado, afasia.

Como o médico faz o diagnóstico?        

A história e o exame físico dão subsídios para uma possibilidade de estenose de carótida como causa da sintomatologia do paciente. A presença do sopro carotídeo é uma suspeita importante no exame físico. A avaliação laboratorial inclui análise sanguíneas especialmente no perfil lipídeo (gorduras no sangue) e glicose (açúcar no sangue). O ecodopler de carótida é o principal exame de triagem da estenose da carótida, porém, outros estudos podem ser necessários para confirmar a doença e planejar o seu tratamento como a angiografia cerebral por cateterismo ou angio-TC ou ainda a angio-RM dos vasos supra-aorticos e cervicais.

Como se trata a estenose de carótida?

Atualmente existem duas modalidades terapêuticas para o tratamento da estenose da carótida. O método mais antigo e convencional consiste na endarterectomia da carótida, que consiste na remoção cirúrgica destas placas de colesterol, restaurando o fluxo sanguíneo cerebral. Entretanto, a endarterectomia é um procedimento cirúrgico e não pode ser aplicado em todos os pacientes, principalmente naqueles que possuem outras doenças graves associadas. O segundo método do tratamento destas placas obstrutivas da artéria carótida é a Angioplastia Percutânea com implante de stent. Esse é realizado com anestesia local na virilha do paciente, onde são introduzidos pequenos cateteres e balões que dilatam a artéria e mantém a artéria aberta com a ajuda do stent, melhorando o fluxo de sangue para o cérebro.

A técnica Endovascular – como ela é?

A Angioplastia Percutânea com implante de stent para a doença ateromatosa cervical vem ganhando espaço em relação ao procedimento cirúrgico convencional, representa hoje, uma das maiores áreas de atuação da especialidade, merecendo destaque especial.

Num primeiro momento, um exame angiográfico completo é realizado a fim de determinar a localização da estenose na vascularização cervical ou E cerebral, sua morfologia, seu local de implantação sobre as artérias nutridoras, sua extensão e o grau de OBSTRUÇÃO oclusão.

O tratamento endovascular é em seguida realizado. Para isso, um introdutor é colocado na artéria femoral depois da punção ao nível da prega inguinal. Um cateter guia é navegado até a origem cervical do vaso afetado.

O tratamento da estenose consiste em dilatar por via endoluminal, com ajuda de um balão, de tal forma a restabelecer o diâmetro normal da artéria. Atualmente, na maioria dos casos, de maneira a diminuir o risco de reestenose, um stent é colocado sobre a estenose no mesmo ato operatório. O êxito técnico do implante de stent na carótida é extremamente alto, sendo de 98.6%.

Quando a angioplastia com stent é realizada, um sistema de produção cerebral, similar a um guarda-chuva, é usado durante todo procedimento, de forma a proteger uma eventual migração embólica para a circulação intracraniana.

Discussões atuais: Cirurgia x Angioplastia          

Na cirurgia de Endarterectomia Carotídea, terapêutica usada há muitos anos para tratamento desses processos obstrutivos, apresentam-se riscos de Acidentes Cerebrovasculares Perioperatório, variando entre 1,5% a 9,0%. Em torno de 7,6% a 24% dos casos, há risco de paralisias dos Pares Cranianos que frequentemente não são registrados como morbidade nas publicações.

A reestenose é um tema importante no implante de Stent Carotídeo, a taxa de Reestenose tem sido de 4.8% nos primeiros seis meses, segundo estudos clínicos e diagnósticos. Para a cirurgia de Endarterectomia Carotídea varia de 5.0% a 11.0%, portanto a taxa de reestenose no implante de Stent Carotídeo tem sido bem aceitável nos dias de hoje.

Depois de vários trials mundiais (estudos multicêntricos), a angioplastia de carótida com stent e sistema de filtro protetor já atingiu os mesmos índices de sucesso e complicações do tratamento cirúrgico aberto, ou seja, não queremos falar que a cirurgia de carótida acabou e sim que a angioplastia de carótida já apresenta resultados compatíveis com a cirurgia aberta.

O maior benefício da angioplastia de carótida é a rápida recuperação do paciente, retornando quase imediatamente a suas atividades do dia-a-dia, com um período curto de internação.

Como se previne a estenose de carótida?          

A prevenção inclui a identificação e controle dos fatores de risco e o uso de terapia antitrombótica (contra coagulação do sangue). A avaliação e o acompanhamento neurológicos regulares são componentes do tratamento preventivo bem como o controle da hipertensão, da disciplina, da diabete e a suspensão do tabagismo.

O tratamento para o AVC tem pouco sucesso, já que reverter o quadro, já instalado, é muito difícil. Assim sendo, fica claro que o melhor tratamento é a prevenção.

Nossa equipe do Serviço de Neurocirurgia e Neurologia, através dos médicos José Ricardo Vanzin e Luciano Manzato, tem realizado com sucesso este procedimento, minimamente invasivo, há mais de três anos em nossa região, a qual faz parte das novas técnicas terapêuticas da medicina moderna.

Todo paciente com hipertensão arterial, história de infarto do coração ou angina, história familiar de AVC, diabético e tabagista tem risco de apresentar doença obstrutiva da artéria carótida.

Previna-se! E procure seu médico de confiança.